segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Contos & Crônicas: No escuro

Muitas vezes estamos parados, desanimados, sem coragem de seguir. Olhar para frente, por quê? Já que tudo o que tem lá é a mesma escuridão de sempre. Chegamos até galopando em todos os nossos erros, em cada decisão, em cada escolha. E aqui estamos. No nada. No lugar nenhum.

Não, nem adianta se desesperar ou tentar fugir. Eu já fiz isso algumas vezes. Depois percebi que deveria usar a cabeça para sair daqui. Dia após dia andei em círculos procurando uma nova ideia que pudesse me tirar daqui. E eu nem sei onde é "aqui". Mas a maioria das ideias eram inviáveis, repetidas ou davam errado.

Então eu me cansei. E aqui estou. Sentada, esperando. Na verdade não sei nem o que espero, mas espero. Quem sabe um milagre possa nos tirar daqui por que eu, meu amigo, já não consigo mais. E você, por favor não se ofenda, também não conseguirá. Então, sente aqui ao meu lado. Vamos contemplar o nada e esperar por dias, semanas, meses...

Esperar até algo acontecer....

E acontece. No começo era só um tremor de leve no chão. Mas foi ganhando força e rapidamente todo o chão desmorona. Apavorados, nos agarramos às paredes e, pela primeira vez em meses, quem sabe anos, meus pés não tocavam o chão.

Aquilo me assustou! Era novo. Não tinha mais o chão para eu sentar e esperar. Estava agora agarrada à vida, sem nada sob meus pés. Foi então que os vi. Nunca os tinha percebido antes.

Além de mim e de meu companheiro - acho que nunca perguntei o nome dele - haviam dezenas de pessoas agarradas às paredes. Em seus rostos, medo, incredulidade, dúvida e até... alívio. Alívio? Será que assim como eu e meu companheiro elas estiveram por todo esse tempo sentadas, esperando no escuro?

Um barulho maior chamou minha atenção. As paredes rachavam. Precisávamos sair dali. Precisávamos voltar... para fora. Só de pensar meu corpo se arrepiou por inteiro. 

Um som mais alto me alertou que não dava tempo para pensar. Ir lá fora era a única opção. Acho que todos devem ter pensado a mesma coisa, já que em seus rostos eu via agora apenas a marca de lembranças que deveriam ser esquecidas.

Um estalo maior. Não tinha mais opção. Se quiséssemos sobreviver, deveríamos sair. E fomos. Com pouca fé, nenhuma coragem e pouca vontade.

No entanto, não sei quanto aos outros, mas a minha primeira sensação foi tocar a grama com os pés. Em seguida, senti o sol tocar meu corpo. O sol. Já tinha esquecido de como era bom. E uma leve brisa beijou-me o rosto. Eu sorri! Eu sorri? Sim! Eu sorri! Abri os braços e corri como criança! Eu era um pássaro, eu era livre!

Nem percebi quando a velha montanha escura desabou atrás de mim, mas me lembro o que me levou até ela e percebo que devia ter buscado conselhos com o sol, não com a escuridão.


Em volta, todos faziam o mesmo. Pareciam crianças! E tudo isso porque o que começou com um tremor terminou nos trazendo de volta àquela que por nós sempre será a mais amada: a esperança...

Um comentário:

  1. Eu sei que sempre digo isso, mas esse é o melhor texto que já li seu.

    E quanto ao conteúdo, é isso... quando era mais novo, era muito pessimista, já te contei isso algumas vezes. Era ao ponto de as vezes até torcer meio que inconscientemente para dar errado só pelo prazer de dizer e"u estava certo", ou pelo medo do diferente...

    Mas logo (ok, nem tanto) descobri que isso era ruim. Que arriscar, mesmo que claramente não fosse dar certo, era a melhor escolha. Que pensamento positivo, por mais clichê que fosse, dava certo e que é tudo tão simples e a gente complica. As vezes, quando nao se tem ideia do que fszer um simples deixa a vida me levar resolve.

    Isso é fé. Fé que as coisas darão certo. E eu não to falando de nada religioso, vc sabe que não sigo nenhuma. É acreditar... igual aqueles desenhos da Disney diziam e a gente não acreditava. Incrível né?

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