quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O texto precisa ver o mundo

Sim, precisa. O Texto precisa ver o mundo e o mundo precisa ver o Texto. Essa é a premissa inicial de qualquer escritor. É aquele comichão que te chama desesperadamente a qualquer hora do dia ou da noite para uma folha de papel ou ao computador. Quando você sente - sim, você sente - que está na hora, aquele emaranhando de ideias vai criar uma forma. Pode até ser que o escritor ainda não saiba qual seja ela exatamente, mas agora ele não tem mais tanto domínio sobre isso. O Texto precisa sair e conhecer o mundo.

Então o escritor para tudo. Nada mais é importante. Agora é o momento mais sagrado. A hora em que as palavras o levam a um outro nível: ao êxtase total. Elas se jogam e você brinca com elas. É um momento sublime onde não existe mais nada além do autor e do Texto. Não importa o assunto, a forma, a linguagem. O Texto... sempre será Texto.

Ah, mas como ele pode ser diferente a cada vez que surge! Em lugares diferentes, em mãos diferentes. Ele nunca será o mesmo, ainda que escrito por uma só pessoa, no mesmo dia. E essa é a beleza dessa arte: ela é mutável, em transformação, para sempre inacabada. Porque o artista ao reler sua obra vai querer mudar uma coisa ou outra. Ou mesmo rasgá-la em pedaços e começar do zero.

E, mesmo assim, isso só nos trás paz à alma. Confesso que muitos Textos já me acordaram de madrugada e me tiraram da cama. E quem me conhece sabe o quanto isso é perigoso. Mas não para ele. Não. Não para o amor da minha existência. Como poderia negar o dom da vida às palavras que tanto admiro? Jamais! Seria como um aborto!

Então escrevo. E a cada letra, palavra, vírgula, ponto; nasce uma frase, uma ideia, um parágrafo. Até o Texto estar pronto. Olho para ele e sorrio. É meu filho. Nasceu de mim. Não. Nasceu por meio de mim. Tenho certeza que essas ideias maravilhosas não saíram da minha cabeça. Sou abençoada por uma Musa grega inspiradora que me sopra aos ouvidos as palavras que transcrevo.

Admiro. Admiro o Texto como se não fosse eu própria a escritora. Porque quando ele nasce, ele já nasce adulto. Pronto para encarar o mundo. E, assim como filhos, temos que deixá-los partir. Mas aqui o desapego é mais abrupto, mais rápido.

Daqui, apenas o acompanho crescer. Vejo-o tocar "corações e mentes" - como diria meu pensador favorito. E essa é minha maior recompensa. Então vá, Texto, vá voar. Porque o mundo é o seu domínio, o seu lugar.




Um comentário:

  1. Nossa Camila.
    Falou e disse. É exatamente isso. Eh como se o texto quisesse sair da sua própria cabeça pra ir para outras. Eh uma vontade de compartilhar que vem dele e você vira um instrumento de passá-la adiante
    Muito bacana mesmo. Gostei!

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