Andava pela rua quando o sol saiu secando as últimas gotas
de chuva. Ela levantou a cabeça e olhou as nuvens se dissiparem no céu. Um
cachorro vagabundo se sacudiu para se secar e acabou molhando-a. Praguejou e
continuou seu caminho.
Agora restavam somente alguns metros até a casa dele. Já podia
ver o contorno do prédio no fim da rua. Seu coração acelerou. Nunca antes havia
feito aquilo. Mas agora havia uma urgência, uma necessidade. Era preciso que
ele ouvisse o que tinha a dizer.
Chegou ao prédio e parou à porta. Os batimentos de seu
coração aumentavam a cada segundo. Fechou os olhos tentando se acalmar.
Reorganizou os pensamentos e repassou mais uma vez a frase que ensaiou a semana
inteira em frente ao espelho. Quando se sentiu confiante, tocou o interfone:
- Pronto.
- Roberto?
- Quem é?
- Mariana...
- Oi, Mari. Sobe aí!
A portaria abriu e ela entrou. Resmungou mal humorada quando
descobriu que teria que subir até o quinto andar de escada: o elevador estava quebrado.
Subiu os dois primeiros andares e a respiração acelerou. E
se ele não respondesse às expectativas do que tinha a dizer? Não tinha pensado
nisso ainda. Seu coração se encheu de dúvidas. E se tudo desse errado? Meu
Deus! O que ela faria? Agora já era tarde demais para pensar nisso. Estava a apenas
três andares dele. Era agora ou nunca. Venceu os degraus restantes.
Quando chegou em frente ao apartamento dele, tocou a
campainha.
- Oi, Mari! Como você está? – Deu um beijo no rosto dela e
abriu espaço para que entrasse. – Aceita uma água?
Ela fez que “sim” com a cabeça e sentou-se no sofá. Em pouco
tempo havia um copo de água em sua mão, ainda intocado. Estava dispersa. Seus
olhos vagavam entre os móveis, o copo e o rosto dele.
Demorou vários minutos até perceber que Roberto estava
falando. E muito. A boca não parava de despejar um mar de palavras sem fim que
começaram a desnorteá-la. Quando não aguentou mais, interrompeu-o com desculpa
de ir ao banheiro.
Sozinha, lavou a nuca e o rosto na pia. Olhou-se no espelho.
Era a própria visão do desespero. Só de lembrar-se do que fora fazer ali
revirava seu estômago. Tentou se acalmar o máximo que pôde e voltou para a
sala.
Roberto sorriu e Mariana sentiu-se derreter por dentro.
Medo. Ansiedade. Vergonha. Eram tantos os sentimentos que a inundavam agora que
não saberia descrevê-los. Por fim, reuniu toda a coragem que lhe restava.
- Preciso te falar uma coisa.
- Fique à vontade! Você sabe que o que precisar é só falar.
Pode se abrir comigo. Sou seu amigo. Estou aqui para o que der e vier.
Ela se irritou.
- Cala a merda da boca só por um segundo!
- O que foi, Mari? Por que você está nervosa? Sou seu amigo!
Pode confiar em mim.
Deus, o sorriso dele era perfeito.
- Só escute o que eu tenho para falar.
- Mas se você tem alguma coisa para falar, diga logo! Nunca
impedi ninguém de falar nada.
- A irritação dela crescia. – Além do mais, entre
amigos não deve haver segredos. Vamos, diga! O que é?
Nervosa, coração palpitando, boca seca. Fechou os olhos e
disse em voz mais alta do que gostaria:
- Vim cobrar os R$ 200 que você está me devendo.
xD
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