sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mentes Perigosas

Todo mundo que me conhece (e nem precisa ser tão íntimo assim) sabe que sou apaixonada por livros. Tanto que cheguei ao cúmulo de eleger o "livro da bolsa". Pois é... o nome é auto-explicativo: é um livro que fica dentro da bolsa (óóóó...). Por que? Sabe aquele momento que, inesperadamente, você tem que ir no lugar mais chato do universo e não tem nada p/ fazer além de esperar a sua vez chegar? Então, eu tenho! Saco o "livro da bolsa" e PÁ! acabou a monotonia.

Hoje, mesmo tendo acordado atrasada, cheguei no horário à clínica de estética para a minha massagem. (O quê? Sou chique, bem!) Como ninguém contava com a minha pontualidade (!), aguardei 20 min antes de ser atendida. Nesse meio tempo saquei o novo "livro da bolsa" na maior felicidade do planeta, porque é um título que há meses estou querendo ler - pausa para explicação dramática: eu compro os livros e os guardo em ordem. Esta ordem é de extrema importância para mim e, salvo raríssimas exceções, todos serão lidos na ordem em que foram comprados. Mania, uai. Fazer o quê?

Enfim, esta obra que tanto aguçou minha curiosidade até finalmente ser aberta hoje pela primeira vez é "Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado", de Ana Beatriz Barbosa Silva. Não sei se as pessoas normais fazem isso, mas eu leio os agradecimentos, introduções, prólogos... Bom, nos 20 min de espera, foi somente isso que conseguir ler, mas já foi o suficiente para fazer-me refletir sobre a minha vida. - Sim querido leitor, os dois parágrafos anteriores foram pura enrolação! Não tinha absolutamente nada a acrescentar ao tema discutido. Faço isso às vezes só para fugir da fórmula dos textos jornalísticos.
Como dizia antes de ser xingada por todos que estão lendo este post, lembrei de coisas da minha vida. Por que? "Mentes Perigosas" desenha o perfil de um psicopata para que possamos nos precaver. Só para que tenham uma ideia,  Ana Beatriz  descreve-os como "extremamente frios".
"Esse livro discorre sobre pessoas frias, insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressoras de regras sociais, impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Esses "predadores sociais" com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo, ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreira, se casam, têm filhos, mas definitivamente não como a maioria das pessoas. (...)
Em casos extremos, os psicopatas matam a sangue-frio, com requintes de crueldade, sem medo e sem arrependimento. Porém, (...) em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.
Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até por uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. (...) Podemos encontrá-los disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos."

Permanecem até uma vida inteira sem serem descobertos... Foi aí que meu mundo desabou. Assim que terminei esses parágrafos lembrei instantaneamente de duas pessoas (e agora enquanto escrevo de mais uma) que percebi serem psicopatas, em graus variados. Mas claro, descobri da pior forma possível e quando já não havia mais nada a ser feito.

Começarei pela que me lembrei agora. Uma pessoa (notem que em momento nenhum denominei gêneros nem nada que possa identificar. Só quem conhece de perto as histórias vai saber de quem falo) que durante alguns anos se passou por minha amiga. Convivíamos em um grupo de pessoas próximas, mas a harmonia sempre era abalada por alguma coisa. Intrigas, fofocas, mentiras. Tudo que pudesse criar pequenas brigas internas e trazer desentendimentos. Até o dia em que o estrago foi grande e a máscara caiu.
Juntando os pedaços de várias histórias, percebemos furos, falhas, contradições,coisas mal explicadas. E no final, tudo apontava para uma única pessoa que, em primeiro instante, negou e disse que era vítima (com direito a muitos litros de lágrimas). No entanto, vendo que não havia mais saída, assumiu os atos e encarnou o papel de "madalena arrependida". Ninguém acreditou.


O resultado é que essa pessoa não faz mais parte da minha vida. Mas eu sofri. Sofri e chorei muito, porque era alguém por mim muito querido. Alguém que eu nunca imaginei que ia p/ minha casa, dormia no meu quarto, comia da minha comida, enquanto destruía a minha vida e de algumas outras pessoas na surdina. Doeu. Para falar a verdade, até hoje dói, mas a vida tem que seguir em frente.

A segunda pessoa... bom, deixemos essa de lado. Não quero falar disso.

Já a terceira foi o caso mais chocante. Estava eu um dia no trabalho - não importa quando nem onde - quando  resolvemos assistir TV, o que é muito raro, principalmente vindo de mim. Era hora do jornal. Uma reportagem forte entrou no ar contando a história de um cara que, num momento de fúria, assassinou a própria mãe.
Ficamos todos chocados na sala. Como alguém é capaz de matar a mãe de uma maneira tão fria? Cheguei a sentir um calafrio, mas o que veio a seguir foi muito pior. O telefone tocou. Era uma amiga:

- Oi, Camila. (chorando)
- Oi. O que foi?
- Sabe esse cara que matou a mãe?
- Nossa! Acabei de ver no jornal! Fiquei chocada... (ela me interrompeu)
- Era fulano.
Pela primeira vez na minha vida eu entendi verdadeiramente o significado da palavra "atônita". Pela primeira vez na minha vida eu abri a boca e não consegui falar. Pela primeira vez na minha vida eu senti aquela dor que parece sufocar.

Acontece que o tal fulano era meu amigo. Estudamos nas mesmas escolas durante anos. Eu gostava dele. Muito. Era alguém em quem confiava, por quem colocaria a mão no fogo. Tantas foram as tardes inteiras que passamos juntos falando sobre cinema, tomando cerveja, rindo da vida, deitados na grama e olhando p/ céu... Quando fiz minha tatuagem, era essa pessoa que estava lá, segurando a minha mão.
Choramos e rimos juntos muitas e muitas vezes por variados motivos e agora, ele era um assassino. E não qualquer um, mas sim dos mais frios que já vi. No rosto, nem um esboço de sentimento. Nada. Fiquei chocada. Não podia ser verdade! Mas era... e infelizmente confirmei isso diariamente nos dois meses que se seguiram todas as vezes em que o rosto dele figurou na TV, internet e jornais.

O mais foda - para mim, obviamente - eram as pessoas falando "nossa! Que risco que você correu! Poderia estar morta agora!" Bom... morri um pouquinho por dia... Tanto pelo o que aconteceu quanto por esses comentários idiotas que me faziam a todo momento relembrar a amizade de infância e adolescência que do dia para noite tinha perdido todo o encanto e a inocência deixando em seu lugar somente o vazio e a dor. 

Foi aí, exatamente aí, nesse ponto da minha vida, que deixei totalmente de acreditar em quem quer que fosse. Porque percebi que a gente não conhece ninguém. Qualquer um a nossa volta pode estar usando uma máscara. 


Desde então, nada mais me surpreende. Nenhuma atitude egoísta, nenhum ato arrogante. A vantagem é que deixei de me decepcionar: quando a gente não espera qualquer coisa, nada é uma surpresa. 

Muitos me perguntam porque sou tão desconfiada, porque "só acredito quando acontece". Bom, agora acho que sabem o motivo.

Sei que comecei esse post meio em tom de brincadeira, mas era uma distração - mais para mim do que para qualquer um. Sabia que as lembranças viriam fortes, carregadas, dolorídas e, por isso, recentes...

Então, não. Não confio em ninguém. Acho que qualquer um pode ser capaz de qualquer coisa. Aprendi também que quanto mais gostamos de uma pessoa, maior será a dor; um dos motivos para eu não me envolver emocionalmente com ninguém (e antes que me perguntem, nenhuma dessas três pessoas teve qualquer tipo de relacionamento amoroso comigo).

Bom... Ainda falta ler o resto do livro. Acho que ainda vou trazer essas lembranças muitas vezes a tona nesse percurso, mas quem sabe eu também não aprenda a reconhecer um psicopata? Afinal, estar com um pé atrás o tempo todo é muito ruim...

5 comentários:

  1. Esperar das pessoas é, muitas vezes, frustante e arriscado. Geralmente elas não poderão corresponder às nossas expectativas. O melhor é agir naturalmente, fazer sua parte, sem esperar nada em troca.
    O que vier é lucro.

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  2. Bem como disse sei que foi essas três pessoas!!
    Gostei muito do que vc escreveu!!! e concordo que hoje em dia infelizmente não podemos mas confiar em ninguém. Mas ainda tenho fé que um dia o mundo fique melhor... se cada um fazer sua parte.
    beijos
    amiga... e pra vc não esquecer eu te amo.. é te garanto que não é mentira..rsrsrsrs saryna

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  3. Eu já acabei de ler este livro..Mentes Perigosas
    o unico ruim talvez
    de ler ele é que voce começa a desconfiar de todo mundo
    sério...qualquer coisinha vira motivo pra um leve pensamento involuntário
    rsrsrs

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  4. Eu lembro de você me contar uma história de que era amiga de um psicopata !!! hahaha. Agora eu sei do que você ta falando ! Incrível esse post !!! Adrianne Krapp

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