Conto de Fadas?

Não há princesa da Disney que termine sem o grande amor da vida nem mocinhas de comédias românticas que não vejam seus ardores compensados quando o The end surge na tela. A educação emocional, especialmente das mulheres, ainda costuma focar muito no acaso que gera o amor. O príncipe pode até não vir montado em um cavalo branco, mas não pode surgir do esforço delas. Como a protagonista de um conto de fadas, elas devem aguardar, indiferentes a tudo, a chegada do homem que vai desposá-las. Infelizmente, a modernidade ainda não conseguiu destruir essa ilusão adocicada.

"A leitura que se faz de um homem sem uma companheira é de que ele ainda não foi buscá-la. Já uma mulher solteira, de que ela não foi escolhida. Por isso a dificuldade delas em admitir que estão solteiras: se assim estão, é porque não foram escolhidas", garante Lia Zanotta, doutora em sociologia pela USP e professora de antropologia da UnB. Para Lia, a questão de gênero ainda não foi superada e há sim um constrangimento social sentido pela mulher solteira.

A psicóloga Mariane Alvim sente diariamente essa cobrança. Aos 30 anos, ela não se importa em ser solteira, mas confessa que a vigilância dos outros é incômoda. "As pessoas julgam o fato de você não querer casar, ter filhos e cumprir com o padrão convencional. Sou uma das poucas solteiras onde trabalho, por exemplo. E me sinto, por vezes, excluída."

(Correio Braziliense – Revista do Correio – 16/10/2011)

Engraçado como lendo o trecho dessa matéria eu pensei na minha vida... Como quase todos devem saber, estou solteira por opção. E gosto de estar. Mas também me sinto deslocada muitas vezes. Não porque eu queira ter alguém ao meu lado. Não é isso. É muito mais por causa da pressão. “E o namorado, Camila?” “Nossa! 26? Vai casar quando?” “Ah, mais uma mulher tão bonita como você não deveria estar sozinha!” “Falta de pretendente não deve ser! Qual o problema?” Nenhum. Nenhum problema. Só não quero ter uma relação fixa. Se tenho pretendentes? Não sei... Não presto atenção nisso. Fico tanto tempo envolvida com minha vida profissional que não sinto falta de um namorado, noivo, marido ou qualquer coisa parecida. DE VERDADE!

Claro que também não sou fria, nem de ferro. Sinto falta de carinho, de uma boa conversa, de cia para sair, de sexo. Mas nada disso requer um compromisso. Para ter essas coisas basta encontrar um cara legal, sair às vezes e... beijo, me liga e me segue no twitter! (Pensando bem, segue não...). Tenho um compromisso? Sim, com a minha vida. Sou apaixonada? Demais, pela minha profissão. Sou fiel? Ao estremo, aos meus princípios. E sou feliz assim.

Príncipes encantados desçam dos seus cavalos brancos, porque aqui não há nenhuma princesa esperando para ser salva. Sou uma mulher de verdade, real, de carne, osso, trabalho, luta e suor. Não estou dizendo que NUNCA vou casar, só que agora não é o momento. E quando (e se) a hora chegar, podem ter certeza que será com alguém que partilhe dos meus princípios: liberdade e respeito.

Até lá, deixem-me trabalhar, estudar, ir ao teatro, cinema, exposições, viajar, tomar um vinho, beber um chopp... O resto? Ah, isso o tempo resolve!