segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Já que o assunto é Mensalão...


Nos primeiros semestres de jornalismo eu aprendi que quando você escreve um texto ele imediatamente deixa de ser seu e passa a ser de domínio público. Um jornalista precisa ter desapego a sua escrita. Deve criá-la, passar p/ editor e ir p/ próxima. Talvez por isso eu não tenha postado nada muito decente nos últimos meses. Estava numa fase muito minha, reclusa. A inspiração se foi e, mesmo quando ela voltou, ainda não me senti confortável em compartilhar o que se passava em minha cabeça.

Mas como todo artista (olha que pretensão a minha) essa fase de "baixos" acaba. E finda ela veio-me à tona um texto que se negou a ser engavetado. Gritou tão alto em minha cabeça que queria ser lido, que não consegui dormir e levantei às 2h da minha cama para extraí-lo da minha cabeça.

Bom, para quem não sabe trabalhei muitas vezes (de repente até mais do que gostaria) como assessora de imprensa. De órgãos públicos e empresas privadas. Tive todo tipo de cliente. Mas o que mais chama atenção no meu currículo é a Presidência da República. Sim, meu caro leitor, essa pobre jornalista, hoje desempregada, já fez parte da assessoria de um presidente brasileiro. Quando? Entre 2004 e 2007. Esse período significa algo a você? Se não, não me custa lembrá-lo que esta é a data do primeiro mandato do primeiro presidente de esquerda eleito na história do país, quiçá até mesmo da mundial - perdoem meu parco conhecimento. Sim, meu querido. Refiro-me a ele: Luiz Inácio Lula da Silva.


Recordo-me bem como para mim era uma honra fazer parte da assessoria do Lula. Cresci tendo-o (por causa dos meus pais, principalmente minha mãe) como herói. Não entendia muito de política, mas sabia que ele era O Cara e que esse Cara um dia governaria o país. De fato não lembro muito das eleições de 1989, afinal eu só tinha quatro anos, mas aos seis eu já estava em frente à TV assistindo a votação do impeachment de Collor (que renunciou para não perder seus direitos políticos). E, acreditem ou não, de lá p/ cá eu comecei a acompanhar a vida política do Brasil. Não, por favor, não me tome por louca. Eu também gostava de desenhos animados e histórias em quadrinhos, mas "sentia" que política devia ser algo importante, já que o movimento dos prós e contras Collor se intensificaram tanto àquela época.

E olha que com seis eu nem sonhava que tinha nascido no último ano da ditadura, que nosso primeiro presidente eleito pelo voto democrático tinha sido tão mal escolhido que sofreu o processo de impeachment (mostrando como brasileiro vota mal) e que Lula era líder sindical no ABC paulista. Mas sabia que o "cara bonitinho" que minha avó resolveu votar (sim, foi esse o argumento dela para decidir o futuro governante do nosso país) tinha roubado dinheiro dos outros e congelado o acesso às poupanças e afins - e isso eu soube porque na época envolveu muita gente de perto e o assunto não era outro - o que jamais impediu que minha vizinha de 15 anos mandasse cartas de amor ao então presidente. Coisas de adolescente.

Lembro-me, como se fosse hoje - talvez porque eu tenha contado essa história na semana passada ao meu namorado (sim, estou namorando, mas isso é assunto p/ outro post) - que durante minha adolescência aguardei ansiosamente meus 16 aninhos para tirar meu título de eleitor. E aos 17 eu votava pela primeira vez e ajudava eleger Lula como presidente do Brasil.

O leitor deve estar se perguntando agora o porque dessa enrolação toda. Na verdade, minha intenção é que você entenda o que a política e, principalmente o Lula, sempre representou em minha vida.

Então, foi com esse coração, que há tanto vos fala, tatuado com uma estrela vermelha inflada de orgulho que assumi meu cargo na Secretaria da Comissão de Ética do Palácio do Planalto. Foi aí que eu fiquei doida!!! Eu aprendi mais sobre os meandros da política. Quem prestava, quem não prestava. Quem roubava, quais favores podiam sair caros. E mais do que nunca meu lado otimista - cultuado mesmo que negado por qualquer jornalista de que "eu posso fazer do mundo um lugar melhor" - estava em chamas. E assim, fui convidada a me juntar a equipe de assessoria do Lula.

Trabalhava no Palácio do Planalto, no segundo andar. Não, minha gente, nunca dei "oi" ao Lula. Na verdade nunca nem o vi de perto, mas era eu que desesperadamente buscava uma notícia importante a qual ele precisava responder urgentemente enquanto esperava à porta de um avião antes de uma viagem qualquer. Foi aí que eu entrei de cabeça na agenda do presidente. E essa era a minha "missão": eu devia ler TODOS os jornais impressos relevantes do país e assistir ao máximo de telejornais possíveis - o que significa, no mínimo, todos os da Globo - diariamente e interpretar o que eles estavam dizendo nas entrelinhas sobre Lula e o governo para que pudéssemos responder. Inclusive foi daí que veio a ideia da minha monografia, mas isso também é outro assunto.

O bacana desse trabalho é que entrei na equipe do Lula numa época excelente: CPI dos Correios, dos Sanguessugas e do Mensalão. Sim, caro leitor, eu estava dentro da Presidência quando o tão famigerado Mensalão veio à tona. Acho que vocês podem imaginar o quanto aumentou minha quantidade de leitura diária...

Carga de trabalho à parte, o que começou a acontecer ali, naquele momento, foi a morte de um ídolo. A cada denúncia eu via Lula se esquivar das respostas. A gente acompanhava cada uma das entrevistas dele e faltava morrer porque ele não dizia nada que toda a equipe tinha virado a madrugada para preparar para ajudá-lo. Junto a isso veio a tão célebre frase do então presidente repetida incansavelmente "eu não sei de nada". Diante de um presidente surdo, mudo, em cima do muro e visivelmente com rabo preso houve até mesmo quem levantasse a bandeira de um novo impeachment - o segundo, em menos de 30 anos de democracia...


Sei que chegou a tal ponto que eu joguei a toalha. Não dava mais conta. Era muito nova p/ aquela carga toda. Aquilo me enlouquecia, tirava meu sono. Precisava de uma coisa mais tranquila como trabalhar com Educação (ok, não TÃO mais tranquilo). Assim, saí da Presidência e fui viver minha vida sem nunca deixar minha veia política de lado. Afinal, ideologia é ideologia...

O tempo passou, o povo brasileiro tem memória curta, mas eu não. Foi com muito desgosto que vi Lula chamar Collor de "companheiro" e ter em sua campanha parceiros como Maluf. Desgosto nível: a política fede, vou vomitar. Mas sempre carregando minha bandeira de que há espaço sim para um Brasil melhor.

E eis que depois de meros e singelos 10 anos resolvem reabrir o caso do Mensalão que, nas palavras de Lula, "nunca existiu". Nada contra essa afirmação. Duvido muito que um ex-governante admita "sim, teve essa roubalheira no meu governo, eu sabia de tudo, mas varria p/ debaixo do tapete". Enfim, me veio à memória figuras como o caseiro, o homem do dinheiro na cueca, Delúbio Soares, Antonio Palocci, Marcio Thomaz Bastos e o ilustre ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu. E com eles veio tudo que já vi de podre em minha curta vida, mas sem nunca me esquecer das palavras sábias de meu pai "se isso eles admitiram, foi p/ esconder coisa muito pior". Provavelmente bem pior...

Então tá. Temos julgamentos de CPIs, condenações do TSJ e tudo mais que possa ser o circo da vez. Porque é nisso que o Mensalão se transformou: num grande Big Brother político onde até quem "odeia" e "não discute política" resolveu opinar. Aí chove aquele festival de "político é tudo corrupto e safado", "não tem nenhum diferente", "não gosto de falar de política". Essas frases me causam verdadeiro pânico porque delas derivam a pior ideia política brasileira: "rouba, mas faz". Querido leitor, atente a este fato, lhe imploro: de que adianta o cara fazer se ele vai roubar o SEU dinheiro??? Já sei a resposta "político é tudo igual". Pode ser, mas sabe de quem é a culpa? SUA!


Sim, tapa na cara da sociedade. A culpa é sua, que prefere votar no Tiririca porque "política é uma grande palhaçada", ou no "cara mais bonitinho". Se o corrupto está lá, se o imprestável está lá é porque você ajudou a eleger. Isso tudo assimilado - espero - nasce mais uma grande ideia de gerico: Vamos anular nosso voto! NÃO, Brasil. Não anule seu voto. Essa é sua arma contra todo esse sistema. Não seja acomodado em dizer que "só meu voto não vai fazer diferença". Provavelmente não faça mesmo. Mas o seu, mais o do José, mais o da Ana, mais o de 100 mil fazem SIM a diferença. Quando os debaixo se movimentam, os de cima caem.

Brasília não está em época de eleições. Aqui não temos prefeito nem vereadores, mas o resto do país sim. Então, caro leitor que mora em outro lugar deste vasto território, eu te imploro: opte pelo voto consciente!!! Leia as propostas de campanha dos seus candidatos. Pesquise se ele possui mesmo poderes para, quando eleito, realizar o que prometeu. E depois de eleito, exija!

Aí eu escuto "mas como posso exigir? É difícil controlar!" Então vamos pelas regras simples:


1. Você se lembra p/ quem votou p/ vereador e deputado federal e estadual? Se não, já está errado. Você tem que ter consciência do seu voto.
2. Seu candidato foi eleito? Se não, mais sorte na próxima. Se sim, cobre dele as promessas de campanha. Se você não sabe, aprenda a votar.
3. As Câmaras de vereadores e dos deputados são abertas a população. No linguajar que elas mesmo usam "são a Casa do povo". Qualquer brasileiro, desde que identificado e não-portador de uma arma, pode entrar nas câmaras, procurar seu candidato eleito e ver o que ele está fazendo. Sabia disso? Não? Então agora sabe.
4. A internet é uma coisa maravilhosa! Nos sites oficiais do governo, os .gov, você pode encontrar o que cada político brasileiro está fazendo sem sair de casa!!! Não é incrível??? Só acessar http://www2.camara.gov.br/

Então, pare com essa preguiça mental de queimar neurônios vendo Avenida Brasil e as empreguetes e vá pensar no seu país. No seu futuro. No futuro dos seus filhos. O Brasil não é um país que pode ser levado a sério, já dizia Charles de Gaulle. E sou obrigada a concordar com ele. Acorda, meu povo! Cérebro foi feito para ser usado. Nossa política é reflexo da nossa mentalidade. O "jeitinho brasileiro" - que há muito deixou de ser motivo de orgulho - é a base da corrupção política. Como disse uma vez Joseph-Marie de Maistre "Cada povo tem o governo que merece". Pense nisso.



E se você ficou em dúvida sobre algum item que eu apontei nesse texto, basta clicar na palavra que ela te leva a um link explicativo. Ah, sim. A quem interessar possa são 03h33. Boa noite...







11 comentários:

  1. Pedir que as pessoas tenham consciência do seu voto é a solução, mas acredito que isso só irá se concretizar quando a educação for uma realidade e uma prioridade no país.

    Infelizmente isso, mesmo que tenha total apoio dos políticos (o que não é o caso), é uma medida a longo prazo. Coisa de mais de 20 anos para o país se tornar de fato um lugar "educado".

    A curto prazo, perdoe-me o pessimismo, mas não vejo uma solução para isso. A corrupção é algo que está tão intrinsicado, o jogo deles está tão bem amarrado que não vejo o futuro com bons olhos. De exemplo já podemos citar uma notícia de ontem em que se dizia que o Lula (nosso grande molusco) já bradava aos quatro cantos o nome do proximo nome a vestir a capa preta no STF (Lembrando sempre que ele já é o presidente que mais indicou ministros para o supremo). Ou seja, ele que já tem o controle do legislativo, executivo e forças armadas, agora consolida também o controle do judiciário.

    É ou não é um presidente superpoderoso?

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    1. Nunca respondi a nenhum comentário. Mas achei interessante essa conversa. Sim, há que se mudar a educação para mudar a mentalidade do povo brasileiro. E essa mudança de pensamento não ocorrerá até, pelo menos, nossos netos terem netos. É uma proposta em longo prazo. Cabe ao brasileiro deixar de ser imediatista e pensar no futuro, no próximo. Mas como você disse, a educação... Por isso (como havia dito) vou escrever um post sobre educação. Aguarde a próxima insônia! ahahahahahahaha

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    2. KK arrasou neste texto. Simplesmente amei! Carregado de sentimento, de emoção, de uma parcialidade saudável e necessária àqueles que querem convencer o leitor de algo!
      Eu concordo plenamente contigo sobre deixarmos de ser imediatistas, sobre sabermos em quem votamos e sobre cobrá-los depois. Somos cobrados diariamente por nossos atos, pq nao aprendemos a fazer isso com quem nos gestiona??
      Parabéns mais uma vez, tua escrita é sempre mto boa, nao fique tanto tempo sem nos presentear com ela.

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  2. Bem, época de eleição aqui no mato...
    A questão não é o que o candidato pode fazer pela cidade... mas o que eu levo nisso...
    Um pouco mais, vamos ver no portão das casas a plaquinha 'vendo votos pelo melhor preço'. Cultura de uma região do pais onde 'quem você conhece' vale muito mais do que suas capacidades, estudo, experiência. Onde o serviço público esta tao inchado de cargos de confiança que a prefeitura demitiu mais de 1000 pessoas desses tais cargos, e muitas ainda sobraram por la.
    Politica se faz com consciência, com transparência. Não com troca de favores.

    Não sei... posso não ser a pessoa mais politizada da paróquia... sou bem alienado até, fechado no meu mundinho pouco tranquilo e nada simples.
    Mas ainda valorizo as pessoas pelo que elas são, e não pelo que podem me oferecer. Politica não devia ser assim também? Valorizar o que o candidato é capaz de fazer, de criar, de beneficiar a coletividade, e não o que ele pode conseguir de 'peixada' pra mim?

    É isso... grande texto, gatona... não sabia que vc tinha trabalhado nessa área... cada dia conheço um pouquinho mais vc... :)

    Beijocas !!

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  3. Camila,
    Excelente texto. Fiquei arrepiada ao ler. Assim como você, eu acho que não podemos ser omissos a política do nosso País.

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  4. Camila do meu coração,
    Senti-me comovida e orgulhosa de compartilhar de suas idéias. Ao ler seu texto fiz um retorno ao dia da primeira posse do Presidente Lula. Senti a mesma esperança daquele 1º de janeiro. Esperança por saber que ainda temos jovens, seres pensantes como você, que é capaz de nos levar a reflexões que valham à pena. Que usa a grande ferramenta que é internet, como instrumento de inquietação mental e não apenas como oportunidade de autopromoção em festas, baladas e fofocas.Infelizmente a maior parte da mídia, que tem credibilidade junto ao povo, está mais preocupada em saber de vilões e mocinhos fictícios, dando a eles credibilidade, do que em esclarecer fatos, verídicos, que dizem respeito à toda nação.

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  5. adorei seu texto depois destas nunca mais voto nulo

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  6. Caríssima KK !
    Sou ex metalúrgico,ex funcionario da CSN.
    Participei da luta dos trabalhadores,vivi varias greves,onde companheiros foram mortos pelas forças armadas ,por ordem de um presidente civil ,o SR José Sarnei.
    Nosso sindicato foi conquistado pelos trabalhadores ao elegermos o Sr José Juarez Antunes,presidente do sindicato /deputado federal/prefeito de Volta Redonda (não tomou posse) ,pois sofreu um acidente muito mau explicado a caminho de Brasília.
    Votei em LULA e no PT em todas as eleições,e muito me entristeci com tantas denuncias,certa vêz um politico meu amigo ,me disse "Carlos,não importa a bandeira,todos são homens."
    Mas nada me desvia do ideal de ter um trabalhador no comando local,estadual e da nação.
    A minha estrela nunca apaga, mesmo não sendo filiado a nenhuma legenda.
    Voto sempre em quem demonstre ,compromisso com o social!

    Parabéns pelo seu texto.

    Que tenhamos um voto consciente!

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  7. Vou resumi a qualidade do seu texto em uma única palavra EXCELENTE!

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  8. Vou resumir a qualidade do seu texto em uma única palavra EXCELENTE!

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  9. Concordo, dia desses comentava com meu marido que a culpa disso tudo é NOSSA!, Essa espécie de político subiu ao poder porque nós deixamos.

    Ficamos observando grupos de pessoas sem escrúpulos, e com um passado duvidoso se organizar, obter patrocínio para suas campanhas, ajuda internacional, e nós pessoas de bem, nada fizemos para impedir.

    Poderíamos ter nos organizado??? Reunido grupos de intelectuais, bem preparadados para gerenciar um país, sim, mas preferimos ficar com nossos postos em empresas privadas, e nossa vida de pacato cidadão...

    E pior, votamos neles!!!

    Concluo, sou uma imbecil, egoísta e covarde.



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