domingo, 8 de dezembro de 2013

Guerra no campo

Sou flamenguista desde que me entendo por gente. Na verdade, desde muito antes disso: meu pai já dizia que eu era flamenguista desde que nasci. E, numa tendência natural dos filhos seguirem os times do pai, abracei o Flamengo como time do meu coração. Aliás, não só eu como também meu irmão.

No começo era só p/ dizer que tinha time, assim como algumas pessoas dizem que são católicas não-praticantes quando perguntam a religião delas. "Você torce p/ qual time? - Flamengo". Resposta pronta. Até o dia que resolvi, de fato, acompanhar um jogo. E aí eu entendi o que era ser flamenguista e percebi que aquilo estava no meu sangue.


Mais ou menos 90 min de pura adrenalina, olhos vidrados e muitas emoções. Pronto, eu era uma torcedora nata. Aprendi até as regras de futebol, como funcionavam os campeonatos, marcava com os amigos de ver aos jogos. Torcia, gritava, me irritava, vibrava, comemorava, sorria e, ao final do jogo, comentava com meus amigos o que tinha acontecido bebendo cerveja e falando dos bons tempos do Flamengo.




O que pouca gente sabe é que muito antes disso eu já tinha tentado me apaixonar por futebol e pensei que torcidas organizadas seriam uma boa p/ me enturmar. No Flamengo, tínhamos a Raça Rubro-Negra e a Torcida Jovem Fla. Comecei a procurar informações sobre elas. Decepção primeira: sem mulheres. Era clube do bolinha. Não sei como é agora, mas há mais de 10 anos, era só para meninos.

Segunda decepção: Young Flu. Essa é uma torcida organizada do Fluminense similar a Jovem Fla. Os integrantes tem mais ou menos a mesma idade. E FlaxFlu (mesmo fora de tempos de glória) é clássico. E quando a Jovem Fla e a Young Flu se encontravam, dava merda. Das grandes. Então decidi que torcidas organizadas não eram p/ mim. Mas isso tem mais de 10 anos...

Nesse tempo, esses grupos cresceram, difundiram, ganharam mais força e se tornaram... Muito mais violentos. Perplexa leio nos noticiários as violências das organizadas Brasil a fora. Até que elas ganharam o mundo com o Corinthians.

Querido leitor, vamos abrir um parênteses aqui. Torcidas organizadas existem em todos os países amantes de futebol e a maioria é violenta e estraga o prazer e o objetivo dos jogos. Mas aqui, irei me ater às torcidas brasileiras, tudo bem? Espero que você possa conviver com isso. Fechando parênteses.


Então, dizia eu que as torcidas do Corinthians ganharam o mundo. Primeiro o Japão. Os torcedores da Fiel tomaram o aeroporto de Guarulhos na despedida do time antes da partida para a Terra do Sol Nascente (PEEEEENNNN alerta de clichê). Não satisfeitos, invadiram o aeroporto do Japão quando chegaram lá p/ ver o Timão jogar. Pobres japoneses de fala baixa e contato físico mínimo... Até aí, tudo bem. Euforia. Mas logo viria o grande TCHAN da Fiel.

Bolívia, fevereiro de 2013. Doze corintianos, dentre eles um menor de idade (14 anos), foram acusados pela morte do adolescente boliviano Kevin Spada, atingido por um sinalizador, durante um jogo entre o Corinthians e o San José, pela Taça Libertadores da América. Sete torcedores foram libertados no começo de junho. Os outros cinco chegaram no Brasil em agosto.

Todos os torcedores negaram envolvimento na morte de Kevin. Menos um adolescente, sócio da Gaviões da Fiel (torcida organizada do Corinthians). Ele apresentou-se à Justiça brasileira como autor do disparo do sinalizador. No entanto, o Ministério Público boliviano emitiu parecer pela libertação, após concluir que não havia provas para incriminação. Como forma de retratação à família, o Corinthians fez um acordo de que pagaria 200 mil dólares de indenização. Mas acabou pagando apenas 50 mil dólares, alegando "dificuldades financeiras". E tá lá! Mais um final feliz.

De volta p/ casa, agora completinha, A Gavião continuou com sua costumeira boa educação nos estádios. E então surgiu a discussão: devemos impedir torcidas organizadas? Elas devem ser barradas dos estádios? Todas são violentas?

Em resposta, quase icônica, a essas questões veio o "por muito tempo inesquecível" (pelo menos até as retrospectivas 2013) jogo Vasco e Atlético-PR. Alguém no twitter comentou "é algum pach novo de GTA? Porque isso tá parecendo um massacre!" E eu não ri. Porque era verdade.




 

Futebol é um esporte. Rivalidade é natural. Sacanear o coleguinha do time adversário porque foi rebaixado, é comum. É saudável.

Espancar com pedaços de pau alguém que nunca viu só porque é da torcida adversária não é só crime. É cruel e desumano.

A palavra esporte deriva do Francês - desport, “passatempo, recreação, prazer”, do verbo desporter, “divertir-se, distrair-se, jogar”, literalmente “levar embora, retirar” – no sentido de desviar a cabeça dos assuntos sérios. Vocês, eu não sei, mas eu não consigo me divertir, descansar a cabeça, me distrair, com essa quantidade de violência... A coisa se perdeu.

Então, voltando àquela questão lááá em cima: devemos proibir as torcidas organizadas de entrarem nos estádios? SIM. E digo mais: deveríamos proibir a existência delas. Essas "torcidas" estão acabando com a maior paixão brasileira pelo esporte. (PEEEEEEENNNNN alerta de clichê).

Pense nisso. 





4 comentários:

  1. O que causou maior estranheza foi o fato de que essas torcidas não tem histórico de rivalidade, como seria em um flaxflu. mas duvido proibirem pois os fanáticos pagam ingresso como ninguém. consomem e geram lucros. O que é um pensar muito burro pois com a proibição as famílias que deixam de ir hoje estariam em peso novamente.

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  2. Talvez com uma fiscalização mais severa, um policiamento trozilhões de vezes maior, com armamento pesado, à la bope, fosse mais interessante de manter torcidas organizadas, sem afetar tanto outros torcedores. Como você disse, os infelizes que trouxeram essa desgraça pra vida de muitos desconhecidos - só pelo coleguinha estar com uma camisa diferente, gritando outro grito de guerra 'pra dar um gás no seu time e zoar o adversário' - são desumanos, e partindo desse princípio, não deveriam ser tratados como tal, meros cidadãos normais iguais a nós, e esse fato justifica a eliminação de cada elemento agressivo e potencialmente perigoso para os humanos de verdade e com sentimentos. Tiros, e os agressores caindo um a um, com toda certeza, é o suficiente pra reduzir essas agressões. E o tal dos direitos humanos? Não, eles não são humanos, apenas são biologicamente parecidos com humanos, mas perderam o título agindo como um bando de sabe-se lá o que, já que nem animais agem assim.

    E isso serve pra politica, pra corrupção, pra futebol, pra esvaziar cadeia, pra endireitar o Brasil...

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  3. Pois entao...
    Eu na boa, nao curto futebol... nao curto esportes em geral...
    Mas, outra coisa que curto ainda menos do que esportes, e menos ainda do que futebol, eh violencia sem sentido...
    Cara... entendo que esportes sao pra integracao social, confraternizacao, entendimento, socializacao... vc leva a esposa, os filhos pra acompanhar um jogo bacana numa tarde de sol...
    Agora, pancadaria, gente com barra de ferro na mao batendo nos outros... ir pra um estadio sem ter a certeza de voltar sequer VIVO????
    Perai... kd a graca da coisa? Sera que o futebol ta virando MMA, onde o octagon eh nas arquibancadas e os jogadores sao a torcida, olhando de 'fora' sem poder fazer nada?
    Entendimentos a parte... acho que merecia uma 'retaliacao'... por parte dos proprios jogadores... sei la, entrar no campo com faixas, de camisa preta, pedindo pelo fim da violencia...
    Copa do mundo tai... nem quero ver como vai ficar ali pra frente... :P

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